A voz dos líderes tradicionais ecoou mais uma vez para reivindicar a participação das comunidades locais na exploração dos recursos naturais de Angola.
O regedor Mwana Kapenda, da aldeia de Kambulo, na Lunda Norte, participou no Tchota 2019 - Conferência Nacional sobre Recursos Naturais, realizado em Luanda, e na sua intervenção, dirigiu-se aos representantes do governo frisando: “Nós não queremos nos beneficiar só de buracos”, aludindo à forma como as empresas exploradoras de minério operam, deixando apenas buracos profundos por onde passam.
As autoridades tradicionais assistem, sem poder fazer nada, à transformação do ambiente que a exploração dos recursos naturais tem vindo a provocar e notam mudanças que prejudicam as comunidades, perigam a subsistência e a sobrevivência das pessoas.“As empresas chinesas que exploram madeira estão a destruir até as colmeias que produzem o mel para o nosso consumo”, revelou o soberano Manuel Victor Frederico, do município de Camaiangala, no Moxico.
Apesar da forma descontrolada como a madeira é explorada na região, o regedor Kissueia Pambo,também do Moxico, disse não estar contra a presença das empresas exploradoras do recurso. “As empresas podem trabalhar, mas o executivo deve fiscalizar o que elas fazem e como fazem”, defendeu.
“Não estamos a registara transparência nem a participação do poder tradicional no exercício da política”, considerou João Miguel Mbau, presidente do núcleo das autoridades tradicionais e representante dos reinos de Angola, sendo ainda da opinião que “as empresas devem conceder aos detentores das terras pelo menos 25% dos recursos dali extraídos”.
Durante a conferência, os líderes tradicionais sublinharam a irresponsabilidade social das empresas que exploram minérios nas províncias do Zaire, Cabinda, Moxico, Lundas Norte e Sul, poluindo o ambiente: o ar, os solos, os rios e o mar. E, nesta sequência, recomendou-se que as empresas estabeleçam parcerias com as Universidades e os povos locais para desenvolverem pesquisas que meçam e avaliem os impactos gerados pela extracção dos recursos minerais para que depois, possam definir mecanismos e estratégias com programas concretos que mitiguem os efeitos nefastos.